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the dog days are over

| 10 de nov. de 2009
as últimas semanas foram boas, apesar do silêncio por aqui. eu diria que estou vivendo os melhores dias desse fatídico ano de dois mil e nove, que parecia não ter mais fim; e as expectativas para o futuro são ainda maiores. eu não tenho vida de novela desde que era um garotinho que vivia se machucando na quina das mesas em salas de estar, e sempre achei muito difícil escrever sobre a felicidade sem cair naqueles clichês infantis e coloridos. vejo a tristeza como um sentimento nobre que consegue despertar no homem a sua sensibilidade e aflorar o seu lado mais poético. no entanto, não gostaria de viver novamente esses últimos meses que foram, sem sombra de dúvida, os piores que passei até hoje na minha mísera existência.
estou numa fase boa, otimista, positiva, dessas como a de um atacante que chuta torto, de canela, e a bola vai parar no fundo do gol. como quem deposita o seu último trocado numa aposta e ganha uma bolada milionária. depois de passar pouco mais de três meses na minha terra natal, aos cuidados da família, me recuperando de um trauma - que qualquer dia contarei com detalhes para o blog -, estou novamente de mudança para onde nunca deveria ter saído. mais maduro, com o ânimo renovado, emprego novo e ainda mais vontade de vencer na vida (embora essa expressão seja genuinamente cafona).
eu ainda tenho uma porção de coisas grandes pra conquistar e não posso ficar aí parado - ainda que não me lembre se foi o dylan ou o raul seixas quem tenha dito isso antes de mim. pouco importa. eu continuo com o desejo de praticar mais esportes, de escrever e ler mais do que o habitual, de ganhar dinheiro e estudar. eu continuo com vontade de engolir cada pedacinho dessa cidade, cada semáforo, cada metro de asfalto. de poder viajar e conhecer outros lugares. de ter saudade de um tempo ainda não vivido. eu continuo sendo aquele mesmo garoto magrelo que um dia deixou a sua mãe chorando em uma rodoviária pra tentar a vida em outra cidade. ainda mais magrelo, é verdade, e com um turbilhão de sensações renovadas. mas aquele menino permanece de pé, sabendo ainda melhor quais são as suas qualidades e quais são os seus limites. e dessa vez um tornado não vai ser suficiente para derruba-lo.
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como um balão

| 16 de out. de 2009
tal como um balão eu quero me sentir leve, voando no ar como se tivesse o peso de uma pluma. quero circular pelas mãos de algumas crianças, amarrado a uma corda, só pra sentir a brisa do cabelo delas roçando a minha pele de plástico. quero alcançar o mais alto que puder até atingir o inatingível e fazer com que o céu não seja o meu limite. tal como um balão eu quero ser colorido. quero ser verde, azul, amarelo, vermelho. quero ter todas as cores dentro de mim. e se for preciso explodir só pra conseguir arrancar uma dessas risadas histéricas que os bebês dão quando levam um susto, eu não vou medir esforços pra isso. tal como um balão eu quero ser observado à distância, como um pontinho vagando no horizonte. ora confundido com uma nave de outro planeta. ora confundido com o super homem. quero que as pessoas apontem os seus dedos para mim e se perguntem para onde eu estou indo. e que elas acompanhem a minha trajetória rumo ao infinito com os seus olhares curiosos. tal como um balão eu quero ser transparente. quero ser feito por um material que permita com que as outras pessoas enxerguem os meus verdadeiros sentidos. e se não for pedir demais quero soprar pra bem longe esse vazio que eu tenho dentro de mim. tal como um balão eu quero estar mais próximo das crianças, como um presente que se ganha dos pais em uma caminhada numa tarde de verão. quero estar nas festas de aniversário, nos casamentos, nas comemorações de fim de ano, como alguém que só se faz presente para deixar mais alegre os lugares por onde passa. tal como um balão eu quero deixar saudade nas pessoas quando resolver ir embora levado pelo vento.
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pense bem antes de usar!

| 21 de set. de 2009

domingo (20/09) estreou a minha coluna no blog bicho de se7e cabeças. a idéia do blog surgiu do mineiro marcos vinícius, responsável pelo selo terceira margem, da editora multifoco, e levará sete autores a publicar sobre um determinado assunto cada dia da semana. eu estarei presente aos domingos na coluna 'chá de minhocas'. a idéia é que ao final de um ano o melhor do blog se transforme num livro.

a comunidade do orkut prazeres amélie poulain organizou um blog e já alcançou a marca de mil visitas em dezoito dias, com cinquenta seguidores e mais de cem comentários nos quarenta e cinco posts publicados até o momento. eu faço parte dessa história e gostaria de parabenizar a todos que colaboraram para esse resultado.
adicione a comunidade no seu perfil, acompanhe o blog e siga o nosso twitter. e se ainda não viu 'o fabuloso destino de amélie poulian', não perca mais tempo e vá correndo à locadora mais perto de sua casa. aproveite cada momento de prazer, por menor que seja, e se torne um amelístico você também! (:
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o começo do fim

| 17 de set. de 2009
naquele tempo eu tinha dezessete anos. era um rapaz magrelo, cheio de espinhas na cara e alguns fiapos de cabelo nas pernas. ainda não sabia muito bem o que fazer com a vida e acreditava em todas aquelas histórias de amor que os poetas contavam nos livros. eu era um adolescente de classe média baixa que dormia nas aulas de matemática e virava as noites sonhando acordado em ser famoso. passava a maior parte do tempo sozinho e tinha vergonha das meninas.
eu tinha alguns livros espalhados pelo quarto e o meu guarda roupa se resumia a dois pares de calçados, um chinelo, dois casacos, algumas camisas desbotadas, quatro bermudas e uma calça jeans. no final de quase todas as manhãs eu costumava apagar as luzes enquanto ouvia dave matthews num aparelho de som que havia sobrevivido a duas enchentes. a música me levava pra um lugar distante, e embora eu não conseguisse entender muita coisa do que ela queria me dizer, eu tinha certeza que aquele cara estava do meu lado e que ele podia imaginar a porcaria que era ser adolescente num país de merda como o meu. ao meio dia aquele ritual era interrompido por duas batidas na porta do quarto que anunciavam que o almoço estava na mesa. o meu pai costumava fazer o sinal da cruz enquanto prestava atenção no noticiário local que passava na tevê, antes de engolir aquele arroz sem sal preparado pela minha mãe,e morder aquele bife com gosto de borracha.
aqueles dias se resumiam num profundo sentimento de espera. era sempre o tempo que estava a frente de todas as coisas, como se eu vivesse numa eterna introdução. eu queria me mudar de cidade pra ter uma vida independente, e começar a trabalhar pra poder comprar todas aquelas coisas que eu sempre quis ter. eu queria entrar num curso de jornalismo pra poder aprender a escrever tão bem quanto aqueles caras que eram os meus heróis e quem sabe, com sorte, poder publicar o meu primeiro romance ou realizar um sonho qualquer. mas o relógio insistia em me olhar com aquela pose de senhor das coisas e a dizer que eu deveria me adaptar à ordem dele ou estaria à margem da felicidade.
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o doce e encantado mundo da internet

| 11 de set. de 2009
foi uma luta imperial contra o tempo nessas últimas horas. eu dizia, rodrigo, calma, você precisa manter a calma. ficar ansioso assim não vai te levar a lugar nenhum. mas o relógio parecia não correr na mesma direção que a minha. eu apertava aquele botão estúpido que atualiza as páginas da internet, e não havia nenhum sinal. o meu navegador insistia em colocar a culpa no servidor. e eu penso que essas grandes companhias deveriam inventar uma espécie de manual de sobrevivência para pessoas como eu, que sofrem inescrupulosamente com paralisias virtuais.

ando saindo de casa muito pouco nesses últimos tempos. apreendi uma espécie de fobia social, como se todas as pessoas do mundo tivessem sempre um bom motivo para descobrir e desenvolver suas tiranias perto de mim. inofensivas caminhadas em parques, barzinho com os amigos e até mesmo sorvetes em praças de alimentação só me aproximam ainda mais de uma solidão carente e pegajosa. vivo num eterno outono enquanto todas as outras pessoas do mundo parecem desfilar sorridentes com suas namoradas, e seus carros tunados, e suas contas bancárias, e seus empregos engravatados, em suas longas primaveras. como sempre fui um apaixonado por comunicação, e um dilacerador de palavras por ofício, acabei descobrindo na internet uma fórmula para me manter conectado à velha humanidade, de uma maneira segura (?).
espero sobreviver.
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tempestade

| 8 de set. de 2009
ontem pela madrugada um milhão de raios desabaram sobre o estado de santa catarina. um deles, uma ingrata força da natureza formada por essas moléculas que a gente tanto escuta falar nas aulas de química, atingiu em cheio um poste bem em frente ao prédio aonde moro, cortando a distribuição de energia no bairro inteiro. e assim, como se estivessemos novamente em séculos passados, vivendo longe das tecnologias e das luminárias incandescentes, eu peguei no sono. dez horas depois, ao acordar, apertei a tomada do meu quarto e, ao ouvir o clap daquele botão amarelo, vi que a lâmpada insistia em não respeitar o meu sinal. me senti impotente. sem luz. sem telefone. sem internet. sem fogão. sem chuveiro. sem eira nem beira. e assim permaneceu por mais um longo tempo, até que duas almas caridosas, dessas vestidas de macacão azul, crachá pendendo do lado esquerdo do peito, capacete amarelo pesando sobre a cabeça, pudessem encostar o caminhão da companhia de eletricidade ao lado do pobre poste machucado. como dois cirurgiões eles devolveram a normalidade às nossas vidas, iluminando as nossas casas com o frescor da modernidade.
o primeiro barulho que ouvi foi do microondas. como num estalo o meu cérebro associou que aquele barulhinho indicava que pedacinhos de eletricidade corriam pelos fios do apartamento até atingirem lentamente aquela máquina de aquecer comida. e através do som daquele pi, que soava como uma tecla de um piano de beethoven, ou como se estivesse saindo de uma flauta de bach, sussurrando aos nossos ouvidos indicando que a energia havia voltado, pude finalmente sair daquela apreensão toda, aprisionada dentro de horas entediantes que não passavam. foram segundos de extrema felicidade aqueles em que a velocidade da luz parecia acender o microondas em câmera lenta.
eu liguei o meu computador e os portais de notícia falavam a respeito de uma noite desagradável no estado de santa catarina. cidades decretando situação de emergência. mortes. ventos com mais de cento e vinte quilômetros por hora. casas destelhadas. árvores derrubadas. pessoas sendo levadas pelo vento. pessoas feridas. tornados. caos. eu era só mais um dentro de um estado prestes a explodir a qualquer instante. e apesar de tudo, aquilo que eu havia perdido, já havia ganho de volta. energia.
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o tempo não é apenas uma palavra na letra T do dicionário

| 27 de ago. de 2009

o texto abaixo foi escrito há exatos cinco anos. nessa foto eu ainda era um menino com um olhar perdido que sonhava com algumas coisas que, por alguma razão, ainda não encontrei. ela foi tirada em florianópolis. naquele tempo o meu irmão ainda morava por lá, numa kitnet e era o meu herói (ele nunca deixou de ser o meu herói). a gente passou essa tarde comendo pão de queijo no centro da cidade, falando sobre a vida. eu tinha dezessete anos e sonhava em ser como ele.


21/08/04

às vezes - quase sempre - eu fico pensando em como será o meu FUTURO. quando eu era um moleque magrelo, de pernas tortas, camiseta rasgada do fluminense, jogando futebol no campinho de barro (nunca de fato teve um `campinho de barro` mas, ah!, como é bom ser moleque...), eu brincava de imaginar nesse futuro, que o tempo acabou transformando em presente, e todas as minhas sensações se uniam a sentimentos irresponsáveis de amor e liberdade. hoje, no ápice da juventude, com os hormônios fervendo, os neurônios explodindo, os pêlos crescendo em meu corpo, a voz engrossando os tubos de minha garganta, e com a memória enrugando minha infância, descobri que o Tempo não é apenas uma palavra no capítulo "T" do dicionário, e continuo sonhando com o inabalável.
poder morar em floripa. estudar. trabalhar. me casar na igreja nossa senhora do desterro. carregar minha mulher no colo às pressas pro carro, dirigir não-sei-como pro hospital mais perto, e erguer o meu primeiro filho - já pensando no segundo. fazer cinema. teatro. televisão. escrever um livro. jogar voley no portão de casa. ter um cachorro chamado spike. ir pra praia. levar a família pro shopping sábado à tarde. pegar a fila do cinema. levar as crianças na vovó. sair com a mulher e os amigos sábado à noite pra comer pizza. fazer compras no supermercado domingo de manhã. churrasco no almoço. futebol de tarde. ir na igreja de noite. acordar. correr pra cozinha. apanhar um cacho de uva. nescau com chantilli. iogurte com geléia de morango. carregar o café da manhã pro quarto. abrir as janelas. sussurrar `bom dia` pra minha mulher. levar as crianças pra escola. trabalhar. passar na padaria com o som do carro ligado, minha mulher lendo uma revista e as crianças brincando no banco de trás (isso é lindo). viajar nas férias. conhecer nova york. dar um abraço no papa. tocar violão. fazer serenatas. natal. reunir a família. me vestir de papai noel. ho ho ho. comprar aquele carro novo que saiu no jornal. viajar mais um pouco. ver o brasil ser octa-campeão mundial. a chegada do homem em marte. mais umas duas estrelas cadentes. envelhecer. ver os filhos criados. beijar serenamente a mulher da minha vida. e morrer.
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insônia

| 6 de ago. de 2009
eu nasci de madrugada e convivo com a insônia desde muito pequeno. ainda bebê, demorei três anos pra ter uma noite completa de sono. meu pai disse que de tanto chorar, uma vez quase me jogou na parede do quarto. eu tenho certeza de que ele jamais faria isso. em todo caso, em certa ocasião foi pego dormindo durante o trabalho em uma salinha de dispensa. e até hoje me conta que teve a noite de sono mais profunda de sua vida quando consegui finalmente dormir por algumas horas.
ainda adolescente ia dormir as cinco, seis horas da manhã, lendo e escrevendo adoidado como se o mundo fosse acabar. quando via um pingo de sol borrar o vidro da janela do meu quarto, eu me jogava pra debaixo das cobertas. tinha medo do sol. não gostava de imaginar que iria dormir sem a benção da madrugada. eu permanecia acordado com os olhinhos esbugalhados debaixo do cobertor, vendo que o sol nascia como um monstro gigante lá fora, e invadia o meu espaço com a sua luminosidade, colorindo de laranja o meu universo. eu praguejava contra aquilo. às vezes criava coragem e me levantava na direção da janela, ajustando a cortina contra o domínio daquela invasão inimiga. como um soldado medroso tornava a espiar o nascimento daquele fenômeno da natureza. eu era um voyer num front de guerra. e permanecia assim até que o sono batesse, quando finalmente voltaria para cama abraçado pelo calor do meu inimigo íntimo.
hoje eu não tenho mais medo do sol. e continuo dormindo tarde. trato a insônia com o mesmo carinho que trato a solidão.
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porque eu ainda sou aquele moleque magrelo

| 21 de jul. de 2009
hoje eu acordei tarde, como de costume nesses últimos dias. a madrugada é realmente encantadora e eu não consigo me livrar nem dela, e nem dessa carência. em todo caso tem um sol lá fora. e eu até gostaria de olhar pra ele pela janela do meu quarto pra poder me sentir melhor. mas eu não tenho janelas no meu quarto.
amanhã eu volto pra casa - embora cada vez mais eu me sinta como se não pertencesse a lugar algum. a vontade que tive nessas últimas horas foi de abandonar tudo e de, quem sabe, seguir a estrada como um mochileiro qualquer. sem rumo. pedindo carona para caminhoneiros. conhecendo pessoas e lugares. talvez o kerouac me entendesse.
eu ainda sou aquele menino que tem dentro de si todos os sonhos do mundo. eu continuo apaixonado pelas músicas, e pelos livros, e eu ainda gosto do cheirinho de pipoca que fica nos dedos quando a gente vai ao cinema. eu continuo sendo aquele menino que brincava de lutinha com o pai nas tardes de sábado. e que se emocionava com aquele show do caetano e do gil de noventa e três, que a gente tinha gravado em vhs, e que o meu pai colocava no video cassete pra ouvir nas manhãs de domingo, enquanto a mãe preparava a maionese. eu sou o mesmo menino que fugia das aulas de matemática pra namorar com os livros na biblioteca, e que dizia não ter nascido para o exato, e sim para o infinito. e que tinha vergonha das meninas, porque elas eram tão sensíveis! e tão puras! e tão meigas! e eu ainda sou aquele moleque magrelo que jogava bola chutando pedrinhas, com os outros moleques magrelos da minha idade. e que tinha vergonha porque o pai me levava e me buscava todo dia do colégio, e eu pedia pra ele ficar me esperando na esquina.
eu nasci menino. e vou morrer menino.
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suicídio

| 19 de jul. de 2009
eu só queria coragem. era só isso que eu queria. coragem pra abrir a porta do meu quarto, caminhar pelos corredores da pensão, sair pelas ruas de são paulo e me jogar de algum lugar. mas toda vez que eu penso nisso aparece a imagem do meu pai fumando em frente ao portão de casa e da minha mãe deitada no sofá com dor no fígado. eu queria coragem pra poder pular só pra ter aquele vento batendo no rosto, e sentir pulsar algumas gotas de adrenalina na altura do meu rim. mas eu tenho medo de me arrepender durante a queda, no meio do caminho. porque eu vivo uma saudade de um tempo que ainda não vivi. saudade de todas essas pessoas espetaculares que um dia eu poderia conhecer, e que ainda não cruzaram o meu caminho. e de todos os lugares que eu poderia ter visitado, que ainda não fui.
ainda assim, de vez em quando me pego imaginando como seria o meu velório, caso pular de um precipício não fosse um grande problema. e também fico me perguntando se o meu pai teria grana pra poder me enterrar, e se minha mãe iria me perdoar por uma atitude tão egoísta como essa. eu fico pensando também na quantidade de familiares, e amigos, e conhecidos, e curiosos que poderiam aparecer no meu velório. e poderia jurar quer iria aparecer mais gente nesse dia, do que em qualquer outra celebração que eu possa ter feito na minha vida.
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obrigado são paulo

| 15 de jul. de 2009
obrigado são paulo. obrigado por ter me tornado homem. um dia eu sonhei com você. eu ainda era um menino nesse tempo. e nesse dia eu sonhava que estava parado num canto. sozinho. e tinha muito medo porque não conhecia ninguém. parado no meio daquela multidão. e você estava me esperando. você sempre esteve me esperando. eu olhei pra você e disse que a gente ainda ia ser felizes juntos. e você sorriu pra mim. obrigado por fazer eu sonhar tanto sobre todas essas coisas que só você seria capaz de me dar e que eu não pude conquistar. e obrigado por ter tirado de mim as coisas que eu tinha antes de te conhecer. obrigado são paulo. porque você acabou com a minha reputação e fez com que eu deixasse de acreditar em tudo aquilo que eu acreditava. porque você me roubou. e porque você fede. e mesmo você sendo essa ladra filha da puta que não vale nada, ainda assim eu amo você. obrigado são paulo. por ter feito eu conhecer algumas poucas pessoas que me fizeram bem. elas tentaram mudar essa visão amarga que eu adiquiri com o tempo das coisas e das pessoas. e obrigado também por fazer com que eu desista delas. obrigado são paulo. por ter me apresentado tanta gente malvada. por todas essas pessoas que atravancaram o meu caminho. que me disseram aquelas coisas todas que você pode ouvir tão de perto. e que estarão rindo do meu fracasso, assim que eu voltar e pegar as minhas coisas de volta. obrigado são paulo. porque você me tornou um cidadão do mundo com todo esse seu ar cosmopolita. e porque você me mostrou que o mundo é um lugar triste e sem esperança. obrigado são paulo.
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improvisar é preciso.

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a arte de conquistar coisas simples

| 14 de jul. de 2009
ah! eu queria poder colocar a culpa na sociedade, sabe? dizer que o homem é fruto do seu meio e todas aquelas coisas políticas e cheias de bla bla bla que as pessoas costumam dizer. mas eu acho que o problema tá comigo mesmo. afinal de contas eu criei um universozinho particular e aqui aonde eu moro só chove! eu ando no meio da multidão todos os dias, e as pessoas desfilam apressadas com as suas pompas aristocráticas, e a vontade que eu tenho é a de me sentir só mais um ali dentro. de passar despercebido indo pro trabalho, voltando pra casa, casando, tendo filhos, essas coisas todas. eu não queria precisar desses livros de filosofia, como se eles fossem um manual que me orientasse a seguir o caminho. na verdade a vontade que eu sinto é a de rasgar aqueles livros do fante, porque ele é um sentimentalóide filha da puta que me corrompeu com a sua sensibilidade. em todo caso eu amo tanto ele que queria poder abraço-lo. queria também poder dizer pro bandini não se esquentar por causa da camila. que as mulheres vão e vem. e que a vida é assim mesmo.
eu sou uma pessoa complicada que gosta de coisas simples, como estourar bolinhas naqueles sacos plásticos de embrulho e de leituras embaixo de árvores em tardes de verão. às vezes (só às vezes) a única coisa que eu queria desse mundo era de encontrar pessoas mais parecidas comigo, e se não fosse pedir demais eu gostaria também de poder me sentir apaixonado de novo, como era secretamente por todas as garotas no meu tempo de infância. eu queria poder gritar baixinho pro mundo que tem alguém, dentre essas seis bilhões de pessoas que estao aí fora, que cuida de mim e que se preocupa quando eu bebo demais ou quando eu fico amargo, como em momentos iguaizinhos a esse. a minha mãe reza por mim todos os dias, ajoelhada num cantinho do quarto dela, com um rosário na mão, a bíblia aberta numa página qualquer. mas não é dela que estou falando. bem. você sabe. às vezes penso que o que eu mais preciso nessa vida é de uma trilha sonora e de uma mulher que olhe nos meus olhos e diga - "eu entendo, benzinho. eu entendo".
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blumenau

| 1 de jul. de 2009
sim ou não. tanto faz. as minhas perguntas continuam sem respostas. eu ando pelas ruas de blumenau, e vejo gente loira de olho azul andando por todos os cantos. e às vezes, principalmente em fins de tarde como os de hoje, cheio de nuvenzinhas pretas no céu, eu me sinto como se estivesse em algum lugar longínquo ao sul da baviera. talvez, se eu tivesse nascido com os olhos azuis o rumo da minha vida fosse outra.
ontem fui à aula de antropologia e dinâmica de grupo, ministradas pelo meu irmão. e em alguns momentos, principalmente naqueles em que os alunos levantavam as suas mãos e faziam perguntas a respeito de um monte de coisa, a vontade que eu tinha era a de levantar a minha também, e vomitar esses pontos de interrogação que machucam o meu estômago em noites de sono.
meu irmão disse que eu preciso de psicoterapia. talvez eu precise mesmo.

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(...)

| 25 de jun. de 2009
eu gostaria de poder encontrar algumas palavras bacanas para definir esse que talvez seja o momento mais importante da minha vida. mas acho que, muito provavelmente, nos próximos dias o meu blog permanecerá em silêncio. até porque amanhã eu volto pra casa. decisões serão tomadas. e eu terei uma semana inteira para definir uma simples questão - qual é o meu papel em frente ao universo?
só espero que o avião não caia no meio do caminho.
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das coisas que não existem

| 21 de jun. de 2009
há alguns meses atrás eu era um menino com data marcada para encarar um casamento, e as responsabilidades da construção de uma família, e todas essas coisas que fazem os meninos se tornarem homens. de repente, num desses momentos transformadores na vida de uma pessoa, tudo aquilo que eu acreditava, e que movia os meus dias e as minhas ações e os meus projetos, deixaram de existir. e eu descobri uma necessidade absurda de poder me sentir apaixonado novamente. de poder sair nas ruas atrás de pessoas interessantes que pudessem me manter vivo por mais tempo e que fizessem eu me sentir um pouco mais humano.
eu era um fantoche nas mãos do destino, e passava a maior parte do tempo olhando as meninas que andavam de um lado pro outro pelas ruas. pensando comigo quando iria surgir aquela que fosse mudar a ordem dos meus dias. eu via meninas de todos os tipos e todos os tamanhos, e ficava sonhando com cada uma delas pegando com ternura nas minhas mãos, e me levando pra conhecer o mundo. às vezes eu me pegava falando baixinho - "o que você quer? você quer a lua? basta dizer uma palavra e eu vou atirar um laço em torno dela e puxá-la para baixo". e então, apesar de uma carência absurda que poderia me levar a cometer grandes equívocos, eu descobri que a maioria das meninas que andavam pra lá e pra cá, e povoavam a minha imaginação, eram enfadonhas e tinham muita pouca coisa a acrescentar ao meu universo.
eu me sentia como se tivesse aquele pássaro do bukowski dentro de mim, e a única vontade que adquiri nesse tempo foi a de sair do brasil. eu imaginava a quantidade de pessoas que pudesse haver no mundo, cada uma vivendo dentro de seus universos paralelos, alternando momentos de felicidade com momentos de angústia, e a sensação de poder encontrar com alguém, em algum lugar desse planeta, que pudesse salvar o meu rabo das sandices desse mundo, era o que me mantinha de pé e o que me fazia sonhar nas noites de desencanto.
eu acho que muita gente já escreveu sobre muita coisa nessa vida. e o que eu mais gostaria de poder deixar registrado para a garota dos meus sonhos, embora eu não saiba se algum dia chegarei a conhece-la e se ela irá me aceitar da maneira que eu sou, é uma frase citada pela rachel de queiroz há algum tempo, e que traduz exatamente aquilo que eu gostaria de dizer:
- eu existi, eu sou, eu pensei, eu senti, e eu queria que você soubesse.
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admite-se uma namorada

| 11 de jun. de 2009
admite-se uma namorada.
não exijo preferências por loiras ou morenas ou gordas ou magras. embora a beleza seja uma coisa fundamental, como já diria aquele velho poeta. não espero que tenha sido a garota mais popular da escola ou que seja rica. nem que saiba cozinhar, lavar, passar roupa. não preciso de amélias. admite-se uma namorada que aprecie os meus defeitos. que goste de música. que respeito os livros. que não tenha vergonha de ir ao teatro. que vá ao cinema e assista filmes de arte. admite-se uma namorada que fuja da cafonice e do clichê. não exijo que conheça knut hamsun ou dave matthews, e que entenda sobre o processo de redemocratização do haiti e torça pelo fluminense. exijo que seja simples, sem deixar de ser complexa. que seja pura, sem perder a malícia. que converse sobre coisas interessantes durantes horas, e faça barulho com o seu silêncio.
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NÃO

| 30 de mai. de 2009
NÃO É A ÚNICA PALAVRA QUE EU POSSO ESPERAR DA BOCA DAS OUTRAS PESSOAS. UM NÃO DADO COM VONTADE. INDECENTE. MAL CRIADO. ESTÚPIDO. UM NÃO DESPUDORADO QUE FAZ A LÍNGUA CHICOTEAR O CÉU DA BOCA. QUE FAZ TREMER OS DENTES. QUE DÓI QUANDO CHEGA SECO NO OUVIDO.
ANDO PELAS RUAS E VEJO GAROTAS ANDANDO POR TUDO O QUANTO É CANTO, COM OS SEUS VESTIDOS E OS SEUS CABELOS LONGOS E OS SEUS PERFUMES E TODAS AQUELAS COISAS QUE - BEM, VOCÊ SABE -, AS GAROTAS CAMINHAM DE UM LADO PRO OUTRO, PARECEM CAMINHAR EM CÍRCULOS, E A MINHA PRESENÇA É FACILMENTE IGNORADA. AO MESMO TEMPO EU ME SINTO COMO SE NUNCA HOUVESSE CONHECIDO ALGUÉM QUE TIVESSE LEVADO PORRADA NA CARA (E NÃO ME LEMBRO SE FOI O FERNANDO PESSOA OU O BUKOWSKI QUEM DISSE ISSO). TODOS OS OUTROS RAPAZES DA MINHA IDADE DESFILAM EM SEUS CARROS POSSANTES, E SEUS CABELOS LAMBIDOS, E SEUS ÓCULOS DE SOL EM DIAS DE CHUVA, E TODAS AQUELAS COISAS CAFONAS QUE ATRAEM AS MULHERES. TODOS OS OUTROS RAPAZES DA MINHA IDADE SÃO UNÂNIMES. SORRIEM E COSPEM HORMÔNIOS QUANDO FALAM. QUALQUER PALAVRA BOBA VIRA POESIA NA BOCA DELES (E NÃO VENHAM ME FALAR DE MÁRIO QUINTANA). AS MULHERES RIEM DE QUALQUER COISA E EXPELEM AQUELE CHEIRO DE FÊMEA NO CIO. E DEPOIS DE UM TEMPO CASAM E ENGORDAM E CRIAM FILHOS QUE TIRAM NOTA BAIXA NA ESCOLA. O PROCESSO É SEMPRE O MESMO. EU VEJO SEIS BILHÕES DE SERES HUMANOS CAMINHANDO PELAS RUAS. EU DISSE - SEIS BILHÕES. E AS VEZES EU SÓ QUERIA ENCONTRAR ALGUÉM INTERESSANTE QUE PUDESSE SALVAR O MEU DIA. ALGUÉM QUE ME DISSESSE ALGUMA COISA QUE VALESSE À PENA. QUE NÃO FOSSE TÃO ÓBVIO. ALGUÉM - QUALQUER UM - QUE PUDESSE SE INTERESSAR UM POUCO PELO MEU MUNDINHO E ME AJUDASSE A ENCONTRAR ALGUMAS RESPOSTAS.
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REAPRESENTAÇÃO

| 28 de mai. de 2009
olá. não não. esquece o olá. eu poderia começar com uma frase impactante. dessas ditas por um grande filósofo que colocam no início dos livros. uma frase pronta. que fale sobre a vida, que tenha palavras bonitas. algo com rima. com graça. o bukowski, por exemplo, dizia que as pessoas que anotam seus pensamentos são umas cretinas. concordo. eu poderia colocar algumas vírgulas, inverter algumas palavras, e dizer que a frase é minha, só pra impressionar um pouco.

"são cretinas, as pessoas que anotam seus pensamentos." (rodrigo da silva)

depois eu poderia me apresentar. dizer que eu sou uma jovem promessa. e que no verão passado consegui terminar de ler ulisses, de james joyce, em oito dias. grande livro! ainda que eu mal tenha chego à página quatorze sem entender bulhufas, contando com capa, frontispício, folhas em branco, sumário, epígrafe e aquela apresentação do antônio houaiss. pouco importa.
narraria os grandes acontecimentos de minha vida. que tive uma educação elitista, ao som de Chopin, Beethoven, Bach. que li os clássicos desde muito cedo. que sou apreciador de um bom vinho. e frequento grupos de discussão de artes plásticas. jogo tênis. pratico corrida de cavalos. escrevo poesia con-cre-tis-ta. embora viva recluso em meu quarto, lendo literatura marginal. ouvindo black music. gastando meu tempo em frente à tv assistindo documentários sobre o reino animal. arriscando hora ou outra palavras dilaceradas. e que tenho orkut. conta de email grátis. e que apareço offline no msn.
terminaria prometendo grandes feitos a seguir, com acontecimentos surpreendentes, histórias bem narradas e garantia de entretenimento e diversão. mesmo que não saiba ao certo com que cabo levo minha vida, e se meu cotidiano é digno de duas ou três palavras que valham a pena.
é isso.
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eu tenho saudade

| 16 de mai. de 2009
eu tenho saudade. saudade de quando era menino e andava livre por aí sem me preocupar com contas vencidas, nem com roupas sujas jogadas sobre a cama ou sobre o que inventar pra comer no almoço. eu tenho saudade de quando acreditava que o dinheiro fosse apenas um pedaço de papel. do tempo em que ainda não sabia nada sobre política ou filosofia ou literatura ou sobre como os homens são uns vampiros de merda. saudade desse tempo em que passava assistindo desenho animado na televisão. sem compromissos. sem despertadores. sem mulheres trancafiadas na cabeça atrapalhando as minhas noites de sono.