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the dog days are over

| 10 de nov. de 2009
as últimas semanas foram boas, apesar do silêncio por aqui. eu diria que estou vivendo os melhores dias desse fatídico ano de dois mil e nove, que parecia não ter mais fim; e as expectativas para o futuro são ainda maiores. eu não tenho vida de novela desde que era um garotinho que vivia se machucando na quina das mesas em salas de estar, e sempre achei muito difícil escrever sobre a felicidade sem cair naqueles clichês infantis e coloridos. vejo a tristeza como um sentimento nobre que consegue despertar no homem a sua sensibilidade e aflorar o seu lado mais poético. no entanto, não gostaria de viver novamente esses últimos meses que foram, sem sombra de dúvida, os piores que passei até hoje na minha mísera existência.
estou numa fase boa, otimista, positiva, dessas como a de um atacante que chuta torto, de canela, e a bola vai parar no fundo do gol. como quem deposita o seu último trocado numa aposta e ganha uma bolada milionária. depois de passar pouco mais de três meses na minha terra natal, aos cuidados da família, me recuperando de um trauma - que qualquer dia contarei com detalhes para o blog -, estou novamente de mudança para onde nunca deveria ter saído. mais maduro, com o ânimo renovado, emprego novo e ainda mais vontade de vencer na vida (embora essa expressão seja genuinamente cafona).
eu ainda tenho uma porção de coisas grandes pra conquistar e não posso ficar aí parado - ainda que não me lembre se foi o dylan ou o raul seixas quem tenha dito isso antes de mim. pouco importa. eu continuo com o desejo de praticar mais esportes, de escrever e ler mais do que o habitual, de ganhar dinheiro e estudar. eu continuo com vontade de engolir cada pedacinho dessa cidade, cada semáforo, cada metro de asfalto. de poder viajar e conhecer outros lugares. de ter saudade de um tempo ainda não vivido. eu continuo sendo aquele mesmo garoto magrelo que um dia deixou a sua mãe chorando em uma rodoviária pra tentar a vida em outra cidade. ainda mais magrelo, é verdade, e com um turbilhão de sensações renovadas. mas aquele menino permanece de pé, sabendo ainda melhor quais são as suas qualidades e quais são os seus limites. e dessa vez um tornado não vai ser suficiente para derruba-lo.
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a (nem sempre) prolixa arte de escrever

| 22 de out. de 2009
Assim, a primeira regra do bom estilo, uma regra que praticamente se basta sozinha, é que se tenha algo a dizer. Ah, sim, com isso se chega longe! Mas a negligência com relação a essa regra é um traço característico e fundamental dos filósofos e, em geral de todos os escritores teóricos na Alemanha, especialmente desde Fichte. Em tudo o que eles escrevem, percebe-se que pretendem parecer que têm algo a dizer, quando não têm coisa alguma. Essa maneira de escrever, introduzida pelos pseudofilósofos das universidades, pode ser observada facilmente e mesmo entre as mais destacadas celebridades literárias desta época. Ela é a mãe tanto do estilo forçado, vago, ambíguo e mesmo plurívoco, quanto do estilo prolixo, pesado, o style empesé, e também da torrente inútil de palavras e, finalmente, do ocultamento da mais deplorável pobreza de pensamento sob uma tagarelice infatigável, ensurdecedora, atordoante. No caso de tais estilos, uma pessoa pode ler por horas a fio sem capturar nenhum pensamento preciso e claramente exposto. Quem tem algo digno de menção a ser dito não precisa ocultá-lo em expressões cheias de preciosismos, em frases difíceis e alusões obscuras, mas pode se expressar de modo simples, claro e ingênuo, estando certo com isso de que suas palavras não perderão o efeito. Assim, quem precisa usar os artifícios mencionados antes revela sua pobreza de pensamentos, de espírito e de conhecimento.
Enquanto isso, a resignação alemã se acostumou a ler amontoados de palavras daquele tipo, página por página, sem saber direito o que o escritor realmente quer dizer. As pessoas acreditam que as coisas devem ser assim mesmo e não chegam a descobrir que ele escreve apenas por escrever. Em contrapartida, um bom escritor, rico em pensamentos, conquista de imediato entre seus leitores o crédito de ser alguém que, a sério, realmente tem algo a dizer quando se manifesta; é essa atitude que dá ao leitor esclarecido a paciência de segui-lo com atenção. Justamente porque tem algo a dizer, tal escritor se expressará sempre da maneira mais simples e precisa, uma vez que pretende despertar no leitor exatamente o pensamento que tem naquele momento, e nenhum outro.
Uma outra característica deles é a de evitarem, quando possível, todas as expressões precisas, de modo que possam sempre tirar a corda do pescoço, quando necessário. Assim, eles escolhem, em todos os casos, a expressão mais abstrata, enquanto as pessoas de talento escolhem a mais concreta porque ela expôe o assunto à claridade, que constitui a fonte de toda a evidência.
Pessoas de talento, por sua vez, dirigem-se realmente a nós em seus escritos, e por isso são capazes de nos animar e entreter: apenas elas combinam as palavras com plena consciência, com critério e intenção. Desse modo, sua exposição estabelece, com a que foi descrita antes, uma relação semelhante à de um quadro pintado com um que foi impresso com um molde. No caso, há uma intenção especial em cada palavra, assim como em cada pincelada; no outro, em compensação, tudo foi feito mecanicamente.
Quem escreve de modo afetado é como alguém que se enfeita para não ser confundido e misturado com o povo; um perigo que o gentleman não corre, mesmo usando o pior traje. Assim como se reconhece o plebeu por uma certa pompa no modo de se vestir e pelo jeito embonecado, a mente trivial é reconhecida pelo seu estilo afetado.
Quando um pensamento correto desponta numa cabeça, ele se esforça em direção à claridade e logo a alcança, para em seguida o que foi claramente pensado encontrar com facilidade uma expressão adequada. O que uma pessoa é capaz de pensar sempre se deixa expressar em palavras claras e compreensíveis, sem abiguidade. Aqueles que elaboram discursos difíceis, obscuros, dubitativos e ambíguos com certeza não sabem direito o que querem dizer, mas têm uma consciência nebulosa do assunto e lutam para chegar a formular um pensamento. No entanto, com frequência, essas pessoas querem esconder de si mesmas e dos outros o fato de que na verdade não têm nada a dizer.

- Arthur Schopenhauer
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aos treze

| 16 de out. de 2009
naquele tempo eu tinha treze anos e sonhava em ser jogador de futebol. passava quase todos os finais de semana na casa da minha avó, batendo bola com alguns muleques magrelos que viviam pela região quebrando vidraças e sujando os pés de barro. eu ainda não tinha beijado nenhuma daquelas garotas que sentavam do meu lado na escola, mas acreditava que um dia iria encontrar a mulher da minha vida, e com ela iria me casar, ter filhos, comprar uma casa e fazer todas essas coisas que as pessoas faziam no tempo dos meus avós, quando o amor ainda não era uma coisa tão complicada. costumava sentir muita vergonha na frente das meninas. eu era engraçado, bobo e sentimental, mas bastava que alguém jogasse as pedras no tabuleiro aonde se brinca com o tal do joguinho do amor pra que eu ficasse vermelho como um tomate.
eu costumava ficar sentado em frente à varanda da casa da minha avó e era muito comum, durante esse tempo, que uma menina da mesma idade que a minha, parecida com a juliette lewis, se sentasse em uma pedra do outro lado da rua, segurando um desses diários cor de rosa em uma das mãos. a menina me olhava com o cantinho dos olhos e eu disfarçava correndo na direção da cozinha, com o coração batendo mais rápido, como uma bola prestes a explodir na minha garganta. esperava passar cinco minutos e voltava pra varanda, segurando um copo de coca gelado nas mãos. a menina permanecia sentada do mesmo jeito, com o seu vestidinho na altura dos joelhos, um caderno nas mãos e um olhar curioso que me causava frio na espinha. de noite eu ficava espiando pela janela da sala os movimentos no quintal da casa dela. algumas vezes ela aparecia por dois ou três minutos, segurando uma criança no colo, outras vezes eram horas perdidas na esperança de poder encontrar alguma coisa.
um dos rapazes magrelos da vizinhança veio me dizer que ela tinha escrito em seu diário o meu nome dentro de um coraçãozinho. e eu acho que na hora que ele me disse isso pode perceber que alguma coisa na altura do meu peito estava sacudindo num movimento estranho e barulhento. eu estava apaixonado pela primeira vez na minha vida e não sabia muito bem o motivo pra isso acontecer, mas sentia uma felicidade triste dentro de mim e uma vontade de gritar pro mundo inteiro que o meu nome estava escrito dentro de um coraçãozinho numa folha de papel.
um dia a república das garotas e garotos magrelos da vizinhança se reuniu e resolveu me colocar frente a frente com a menina. eles afastaram a gente pra longe do grupo e ficaram observando o que poderia acontecer, escondidos atrás de um portão. eu fiquei em pânico, morrendo de medo, sem saber o que fazer. parecia uma vítima nas mãos de um brutal assassino e não havia para onde fugir. eu via aquela menina parada na minha frente, com aquele sorriso apaixonado no rosto, e ficava repetindo pra mim mesmo - calma, rodrigo, você precisa manter a calma! e então, num desses momentos que se congelam para a posteridade, eu fechei os olhos e beijei aquela menina com a cara da juliette lewis, que eu mal sabia o nome, sem saber muito bem o que estava fazendo. por um instante eu abri um dos olhos e espiei que a república dos magrelos comemoravam aquele momento com gritinhos desenfreados. e enquanto movimentava a minha língua perdidamente dentro da boca dela, naquele momento pude sentir o sabor que tinha um beijo de verdade, que tanto havia ouvido falar dos garotos mais velhos e que só havia experimentado dentro da minha imaginação.
naquele dia eu fui dormir mais feliz.
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como um balão

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tal como um balão eu quero me sentir leve, voando no ar como se tivesse o peso de uma pluma. quero circular pelas mãos de algumas crianças, amarrado a uma corda, só pra sentir a brisa do cabelo delas roçando a minha pele de plástico. quero alcançar o mais alto que puder até atingir o inatingível e fazer com que o céu não seja o meu limite. tal como um balão eu quero ser colorido. quero ser verde, azul, amarelo, vermelho. quero ter todas as cores dentro de mim. e se for preciso explodir só pra conseguir arrancar uma dessas risadas histéricas que os bebês dão quando levam um susto, eu não vou medir esforços pra isso. tal como um balão eu quero ser observado à distância, como um pontinho vagando no horizonte. ora confundido com uma nave de outro planeta. ora confundido com o super homem. quero que as pessoas apontem os seus dedos para mim e se perguntem para onde eu estou indo. e que elas acompanhem a minha trajetória rumo ao infinito com os seus olhares curiosos. tal como um balão eu quero ser transparente. quero ser feito por um material que permita com que as outras pessoas enxerguem os meus verdadeiros sentidos. e se não for pedir demais quero soprar pra bem longe esse vazio que eu tenho dentro de mim. tal como um balão eu quero estar mais próximo das crianças, como um presente que se ganha dos pais em uma caminhada numa tarde de verão. quero estar nas festas de aniversário, nos casamentos, nas comemorações de fim de ano, como alguém que só se faz presente para deixar mais alegre os lugares por onde passa. tal como um balão eu quero deixar saudade nas pessoas quando resolver ir embora levado pelo vento.
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FILMES PARA VER ANTES DE MORRER

| 14 de out. de 2009
DEIXE ELA ENTRAR (Låt den Rätte Komma In). 2008. Suécia. Dirigido por Tomas Alfredson. Com Kåre Hedebrant, Lina Leandersson. IMDB - 8.1. Trailer.

quando stephanie meyer lançou crepúsculo há quatro anos atrás, livro que se tornaria fenômeno de vendas entre o público jovem, se aproveitando do espaço deixado com o fim da saga de harry potter, uma onda vampiresca começaria a assombrar o mercado cultural pelos quatro cantos do mundo. os seres mais sombrios e sedutores da mitologia sairiam do ostracismo dos últimos anos para ganhar vida nas prateleiras de livrarias, videolocadoras, nos canais de televisão e em outros veículos de entretenimento. diversos livros sobre o assunto, de autores consagrados, ganhariam uma nova chance editorial; e um novo material vampiresco pode ser construído. no entanto, de tudo o que foi produzido dentro desse universo em particular, nada me surpreendeu e sensibilizou mais do que o filme sueco 'deixe ela entrar' (låt den rätte komma in), do diretor tomas alfredson.
logo de início somos apresentados ao garoto oskar (kåre hedebrant), um menino de doze anos, introspectivo e solitário, que convive com a humilhação e o desgosto de ser saco de pancadas dos outros rapazes de sua idade. oskar parece condenado à solidão até conhecer eli (lina leandersson), sua mais nova vizinha, uma menina de hábitos estranhos que aparenta ter a mesma idade que a dele e os mesmos problemas de sociabilização. o cenário gelado da suécia poderia ser só mais um palco para que duas pessoas sozinhas e carentes se cruzassem, como ocorre pelas esquinas do mundo inteiro, se não fosse pelo fato da menina em questão ser uma vampira.
conforme se torna evidente a solidão que os acompanha e suas proximidades, apesar da diferença de maturidade de alguém que possui doze anos e alguém que possui doze anos há muito tempo, oskar e eli constroem uma relação de uma beleza sentimental sem tamanho, como poucas vezes pude presenciar nas telas de um cinema. a carga histórica e esteriotipada a respeito do universo dos vampiros é respeitada sem exageros fantasiosos. eli permanece trancafiada dentro de seu quarto durante o dia, sem se permitir à exposição do sol, se alimenta exclusivamente de sangue humano e não invade ambientes sem receber a permissão para isso - como se refere o título do filme. mas são as sutilezas dos detalhes que fazem com que 'deixe ela entrar' se transforme numa pequena obra de arte que permanece trancafiada em nossas cabeças por algum tempo depois de sua exibição.
o filme é baseado no livro lançado na suécia há cinco anos atrás (um ano antes do fenômeno comercial norte americano), escrito por john ajvide lindqvist, que também assina o roteiro do longa. exibido pela primeira vez no brasil na última mostra de cinema de são paulo, arrancou quase sessenta prêmios internacionais pelos festivais por onde passou. no circuito brasileiro entrou em cena nesse mês, em algumas sessões em são paulo, curitiba e porto alegre.
'deixe ela entrar' será adaptado para hollywood com a direção de matt reeves (cloverfield), e o remake tem previsão para lançamento para o final de 2010. o cenário gelado da suécia dará lugar ao estado do colorado, nos estados unidos, e será ambientado nos anos oitenta, durante o governo reagan. o que nos mostra que a onda vampiresca que assombra o mundo do entretenimento só não é maior do que a falta de criatividade dos estúdios de hollywood, que destroem, ano após ano, preciosidades do cinema asiático e europeu pouco divulgadas entre o público mainstream, com os seus clichês com cheiro de moeda de caça níquel.
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a globalização e outras coisas criadas pela globo

| 13 de out. de 2009
acordo. são nove e meia da manhã. levanto e caminho na direção do banheiro. abro a portinhola acima da pia e puxo um tubo de colgate pra escovar os dentes. lavo o rosto. saio do banheiro e pego o jornal na varanda de casa. 'barack obama ganha prêmio nobel da paz'. sento no sofá, e enquanto preparo o café, aperto o botão do meu computador esperando que o sistema operacional da microsoft se inicie. acesso dáblio dáblio dáblio ponto google ponto com e pesquiso sobre as condições climáticas dos próximos três dias, na minha cidade ao sul do brazil. previsão de sol e calor. depois disso acesso dáblio dáblio dáblio ponto hotmail ponto com e vejo cinco emails novos, dois deles com uma propaganda para comprar, respectivamente, um livro sobre as técnicas de sedução desenvolvidas por um cientista norte americano e os produtos em liquidação da loja virtual do ebay. é domingo e o sol invade a janela da sala aquecendo as minhas costas. resolvo trocar de roupa para dar uma caminhada. coloco um conjunto esportivo da nike, com um tênis testado sobre as mais terríveis condições para aguentar o tranco das minhas longas passadas. vou pra rua.
na sexta feira eu havia tomado uns drinks a mais na festa open bar que fui em uma balada que reuniu dois dos melhores dj's do brazil. e não havia nada melhor do que uma caminhada saudável de domingo para recuperar aquela ressaca de sábado. e enquanto acelero o passo em frente a algumas lojas, que estarão abertas até o meio dia, vendendo todas aquelas coisas que a gente sonha em ter e que só o dinheiro pode comprar, penso comigo - 'que bela anta foi o karl marx'! se não fosse a luta de classes ainda estaríamos por aí desenhando e resmungando dentro de cavernas. enquanto os macacos estavam comendo bananas pelas selvas paleolíticas os homens estavam fechando o pau atrás de fogo. e foi preciso que esse quebra-quebra atravessasse os séculos para que os nossos ancestrais peludões conseguissem fazer suas barbas com gillette. e muitas cabeças rolaram para que o homem conseguisse fazer coisas simples, como andar de avião num desses boeings que atravessam o mundo, levar a família pra passear dentro de um carro de qualquer cor ('desde que seja preto') ou trepar de camisinha com jontex.
moro num bairro próximo ao centro da cidade e com um pouco mais de uma hora de caminhada consigo chegar ao principal shopping center da região. é quase meio dia e os restaurantes da praça de alimentação estão movimentados. todos aqueles big macs gordurosos, e aqueles sundays, e os copões de coca cola, e os menus coloridos escritos em inglês, abrem o meu apetite e acabam levando aquela corrida saudável de domingo a um banquete condenado à indigestão. na mesa ao lado vejo uma criança brincando com bonequinhos da disney ganhos na compra de um lanche em algum restaurante fast food. ela aparenta ter um pouco mais de doze anos e está acima do peso. o rapaz que acompanha o menino é mais velho e usa uma camisa dos lakers com o nome de kobe bryant estampado nas costas. enquanto morde um pedaço de picles que insiste em sair de seu sanduíche, escuta música num mp3 player com um fone de ouvido, e ainda que eu esteja na mesa ao lado, consigo ouvir a batida frenética feita por um desses rappers que fazem a cabeça de meninos da classe média baixa do brazil que sonham em ser como os rapazes da periferia norte americana.
somos escravos. não conseguimos sequer olhar pra lua sem que uma bandeira azul e vermelha esteja fincada nas nossas direções. os estados unidos invadem a casa de bilhões de pessoas todos os dias com os seus filmes, e as suas músicas, e os seus seriados de televisão, e os seus produtos tecnológicos, e os seus padrões de beleza, e os seus reality shows, e os seus best sellers, e os seus websites, e transformam grande parte da população mundial em escravos da sua barbárie. estamos condenados a trabalhar em prol do american way of life até que, através do jeitinho brazileiro, nossos políticos roubem os nossos útimos trocados e nos matem de desgosto a cada vez que uma propaganda passar na televisão e nos sentirmos mais pobres do que já somos.

*idéia original postada nesse mesmo blog em jun/09 e desenvolvida para a minha coluna de domingo (11/10) no blog bixo de se7e cabeças.
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vampiros emocionais

| 8 de out. de 2009
os vampiros estão de tocaia, mesmo agora, enquanto conversamos. nas ruas em plena luz do sol, sob o tremular azulado das lâmpadas fluorescentes do escritório e talvez até sob as luzes acolhedoras do lar. estão por toda parte, disfarçados em gente comum, até que suas necessidades internas os transformem em feras predadoras.
não é o nosso sangue que eles sugam; é a nossa energia emocional.
não se engane, não se trata dos aborrecimentos cotidianos que fervilham à sua volta como insetos ao redor da luz da varanda, facilmente enxotados com declarações afirmativas e firmes. são as autênticas criaturas das trevas. além de ter o poder de importunar, também nos hipnotizam para nos anestesiar a consciência com falsas promessas até sucumbirmos a seu encanto. os vampiros emocionais nos atraem e depois nos sugam.
a princípio, os vampiros emocionais parecem melhores que as pessoas comuns. são tão inteligentes, talentosos e encantadores como um conde romeno. gostamos deles, confiamos neles, esperamos mais deles do que das outras pessoas. esperamos mais, recebemos menos e, no fim das contas, saímos derrotados. nós os convidamos a entrar na nossa vida e quase sempre só percebemos o erro quando eles desaparecem na noite, deixando-nos exauridos, com dor na nuca, carteira vazia ou talvez coração partido. mesmo assim nos perguntamos: serão eles ou serei eu?
são eles. os vampiros emocionais.
você os conhece? já experimentou seu poder sombrio em sua vida?
já conheceu pessoas que pareciam maravilhosas à primeira vista, mas depois se revelaram o posto? já se deixou cegar por explosões brilhantes de charme que se acendiam e se apagavam como cartazes baratos de néon? já ouviu promessas sussurradas na calada da noite que foram esquecidas antes do amanhecer?
alguém já o sugou completamente?
os vampiros emocionais não se levantam de túmulos à noite. moram ali na esquina. são os vizinhos tão acolhedores e cordiais na sua presença, mas que espalham boatos pelas suas costas. os vampiros emocionais estão no time de vôlei; são os astros do time até que algo se volte contra eles. quando isso acontece, têm acessos de raiva que deixariam envergonhada uma criança de três anos. os vampiros emocionais trabalham nos escritórios; ocupam cargos altos e bem-remunerados, envolvem-se tanto em política e em intrigas mesquinhas que não têm tempo para trabalhar. os vampiros emocionais podem até dirigir uma empresa; são os chefes que fazem palestras sobre outorga de poderes e incentivos positivos, depois ameaçam demitir funcionários pelos mínimos erros.
os vampiros emocionais podem estar à espreita em sua própria família. pense no seu cunhado, o gênio que não pára em emprego algum. e aquela tia quase invisível que cuida de todo mundo, até que doenças esquisitas e debilitantes o obrigam a cuidar dela? será que precisamos falar daqueles parentes tão carinhosos e irritantes que estão sempre pedindo que você faça o que lhe agrada, na esperança de que você agrade a eles?
o vampiro pode compartilhar sua cama, ora como um parceiro amoroso, ora como um estranho frio e distante.

- do livro "vampiros emocionais - como lidar com pessoas que sugam você" de albert j. bernstein, ph.d.