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a parábola da parabólica

| 30 de set. de 2009
"cristo morreu cedo demais. se tivesse vivido até a minha época, ele teria repudiado a sua doutrina." (nietzsche)

são oito horas da noite. joão chega em casa cansado do trabalho. há três dias chove sem parar e seus pés estão ensopados. no ônibus a caminho de casa ouviu duas senhoras comentando de que esse seria o fim dos tempos. joão não acredita nessa coisa de fim dos tempos; e enquanto pensa a respeito disso, caminha na direção do sofá com suas meias enxarcadas. sua mulher reclama na cozinha de que seu filho mais novo havia recebido um bilhete de advertência na escola pela terceira vez no ano. joão trabalha como segurança de uma empresa de grande porte na zona industrial da cidade. passa doze horas por dia em pé, segurando uma arma na altura da cintura e convivendo com o tédio, as dores na altura do tornozelo e o silêncio das horas que não passam. em treze anos de profissão nunca precisou usar a arma, a não ser uma vez quando ameaçou um bêbado que tentava pular o muro que divide a empresa da rua de asfalto. a última coisa que joão quer na sua vida é apertar o gatilho ou ter que conviver com as reclamações de seu filho mais novo ao chegar em casa cansado do trabalho.
com os pés sobre um puff cor de abóbora que ganhou de sua mulher no aniversário de quarenta e três anos, joão aperta o controle remoto para dar início à transmissão do jornal nacional, naquela caixa preta de vinte e nove polegadas cravada na estante de sua sala, comprada em doze prestações em uma loja do centro da cidade. joão ainda era um menino quando ouviu no rádio o presidente do brasil dizer que se um fato não havia sido noticiado no jornal nacional era porque ele não havia acontecido. e desde então, religiosamente, as suas atenções estão voltadas para a televisão naquele mesmo horário - para ouvir as notícias que a maior rede de televisão de seu país tinha preparado pra ele.
- boa noite - diz o apresentador do jornal que invade as telas de sessenta por cento de todos os televisores ligados no brasil naquele horário - o juíz gláucio de araújo da nona vara criminal de são paulo abriu ação criminal contra o fundador da igreja universal do reino de deus, edir macedo, e mais nove pessoas ligadas a ele por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
a câmera muda para sua mulher, também jornalista e companheira de bancada há mais de onze anos.
- segundo a denúncia da promotoria, edir macedo e os outros acusados desviaram dinheiro de doações de fiéis e se aproveitaram da isenção de impostos oferecidas à igrejas de qualquer culto, determinada pela constituição.
nesse momento quase todos os olhos e ouvidos do brasil estão voltados para a guerra midiática decretada pela quarta maior emissora do mundo à igreja neopentecostal que mais cresce na américa latina, e que controla a segunda grande emissora do país, sua maior concorrente - a rede record de televisão. a alta cúpula da igreja deveria estar naquele momento andando de um lado para o outro, em uma sala de reuniões aonde seria decidido qual seria o contra-ataque.
joão não acredita em deus desde que tinha dezessete anos, quando perdeu um irmão assassinado, mas sua mulher frequenta o templo da igreja universal do reino de deus construído há duas quadras de sua casa. há algum tempo boa parte de seu salário é direcionado para os sacos de recolhimento de ofertas nos cultos de domingo, e para o dízimo. joão lamenta profundamente aquelas horas de trabalho que não serviram para nada.
- se deus é o caminho, edir macedo é o pedágio.
e então ele muda de canal com aquela sensação de que se não bastasse o mundo inteiro ser enganado por aquela estórinha pra boi dormir contada na bíblia, o seu bolso pagava caro para sustentar aquelas mentiras todas. na rede record ele tem a triste sensação de que o dinheiro do suor de seu trabalho havia parado na conta bancária daquele apresentador, que sorria de terno e gravata tentando lhe vender uma pasta de dente vagabunda, usada por pessoas como ele que não tinham dinheiro para comprar pastas de dente indicadas pelos dentistas.

*postado originalmente na minha coluna de domingo (27/09) no blog bixo de se7e cabeças.
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o fim é só o começo

| 23 de set. de 2009
"se o meu médico me dissesse que eu teria apenas seis minutos para viver, eu não ficaria remoendo. eu digitaria um pouco mais rápido." (isaac asimov)

eu estou cercado por todos os cantos. é o fim. não posso dar mais nenhum passo. mcluhan tinha razão.
tudo começou com um simples preenchimento de cadastro. eu me lembro que aquilo prometia não tomar muito do meu tempo. e então o orkut começou a querer saber sobre quem eu era, o que eu fazia, do que eu gostava, aonde eu morava e quem eram os meus amigos. o orkut me interrogava e a partir daquele momento eu estava me transformando num arquivo. num doc. num ponto-alguma-coisa. com o tempo o negócio foi só piorando e eu comecei a me envolver de uma maneira ainda mais perigosa.
comecei a contar pra todo mundo qualquer coisa que acontecesse na minha vida, ou qualquer coisa que passasse pela minha cabeça. o twitter seguia cada passo que eu dava. um simples vou ali e já volto era suficiente. e ele ainda fazia questão de me passar relatórios sobre tudo o que se passava na vida das outras pessoas. o twitter era exigente e mesmo que eu criasse uma complexa teoria a respeito do funcionamento das coisas, que poderia me render a publicação de um livro ou a conquista de um prêmio internacional, ele só me dava um espaçozinho de cento e quarenta caracteres para explicar tudo com detalhes. e nenhuma vírgula a mais.
o negócio estava indo de mal a pior. eu estava sendo dominado pelas agá-te-te-pês. depois de um tempo deixei de enviar cartas pelo correio, e comecei a perder horas do meu dia reenviando para todos os contatos da minha conta de email milhares de correntes virtuais, mensagens de fé e esperança, piadas, teorias da conspiração, e mais um monte de besteira. deixei de comprar jornais em bancas de revista pra dar uma chance aos portais virtuais, que me enfiavam goela abaixo um milhão de informações através de imagens, manchetes, links e textos curtos. abandonei as lojas de disco e as videolocadoras por downloads ilegais. e se num determinado momento de descuido colocasse pra tocar a pasta de música da minha irmã mais nova, o lastfm não pensava duas vezes antes de sair por aí falando que eu era o mais novo emo do pedaço. e ainda aparecia um monte de gente estranha querendo ser meu amigo e revelando suas compatibilidades, que não tinham nada a ver com o meu universo.
chegou um momento em que eu não podia tirar uma mísera foto sem que o flickr não soubesse. se fosse num aniversário de casamento de um parente qualquer e filmasse um desses momentos descontraídos, aonde as pessoas bebem, dançam e falam à vontade, aquilo logo ia parar nas mãos do youtube. se fosse no cinema com a minha namorada só pra trocar uns beijinhos, tomar guaraná e comer pipoca, numa dessas comédias românticas despretenciosas, era a vez do flixster me colocar na parede até que eu revelasse a minha opinião sobre o filme. não podia trocar uma palavrinha com os meus amigos sem que o msn não quisesse salvar a conversa. e se estivesse lendo um livro qualquer, ou abandonasse de forma imperdoável um clássico na página quarenta e quatro, não demorava muito tempo para que o skoob saísse por aí avisando todo mundo.
eu estava preso àquela bolha uniforme e globalizada. e ainda teria que aprender a conviver com o myspace, o facebook e o multiply, com a microsoft, a apple e o google. o mundo aos poucos estava sendo dominado por uma onda social high tech e o preço por aquilo haveria de ser a nossa total liberdade.

*postado originalmente na minha coluna de domingo (20/09) no blog bixo de se7e cabeças.
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pense bem antes de usar!

| 21 de set. de 2009

domingo (20/09) estreou a minha coluna no blog bicho de se7e cabeças. a idéia do blog surgiu do mineiro marcos vinícius, responsável pelo selo terceira margem, da editora multifoco, e levará sete autores a publicar sobre um determinado assunto cada dia da semana. eu estarei presente aos domingos na coluna 'chá de minhocas'. a idéia é que ao final de um ano o melhor do blog se transforme num livro.

a comunidade do orkut prazeres amélie poulain organizou um blog e já alcançou a marca de mil visitas em dezoito dias, com cinquenta seguidores e mais de cem comentários nos quarenta e cinco posts publicados até o momento. eu faço parte dessa história e gostaria de parabenizar a todos que colaboraram para esse resultado.
adicione a comunidade no seu perfil, acompanhe o blog e siga o nosso twitter. e se ainda não viu 'o fabuloso destino de amélie poulian', não perca mais tempo e vá correndo à locadora mais perto de sua casa. aproveite cada momento de prazer, por menor que seja, e se torne um amelístico você também! (:
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a arte de falar pouco e não dizer quase nada

| 4 de set. de 2009


não deixem de acompanhar @rodrigodasilva.
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entre a cruz e a espada

| 17 de ago. de 2009
joão chega em casa cansado do trabalho. caminha na direção do sofá, enquanto escuta sua mulher gritar da cozinha reclamando da nota baixa do seu filho na escola, e aperta o controle remoto para dar início à transmissão do jornal nacional, naquela caixa preta de vinte e nove polegadas cravada na estante de sua sala, comprada em doze prestações em uma loja de eletrodomésticos do centro da cidade. o apresentador da quarta maior rede de televisão do mundo, assistido por quase sessenta por cento de todos os televisores ligados naquele horário no brasil, após sua saudação inicial, noticia os escândalos envolvendo o líder de uma das principais igrejas evangélicas do país. joão não acredita em deus desde que tinha dezessete anos, mas sua mulher frequenta o templo construído pelo bispo, acusado de lavagem de dinheiro, associação criminosa e utilização de dízimo na aplicação de empresas privadas. há algum tempo boa parte de seu salário é direcionado para os sacos de recolhimento dos cultos de domingo. joão lamenta profundamente aquelas horas de trabalho que não serviram para nada, e ao trocar de canal para uma das emissoras controladas pelo bispo, tem a triste sensação de que o dinheiro do seu suor foi parar no bolso daquele apresentador, que sorria lhe tentando vender uma pasta de dente vagabunda, usada por pessoas como ele que não tinham dinheiro para comprar pastas de dente indicadas pelos dentistas.
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orkut

| 29 de jul. de 2009
o orkut é composto por meninas que tiram fotos fazendo biquinho em frente ao espelho do quarto. e de gente colorida, cheia de frescura, que arranca frases de uma poesia qualquer de algum escritor consagrado, pra encher linguiça na descrição do perfil. o orkut é recheado de comunidades que não dizem nada, com fotos de bebês obesos e tópicos estúpidos. de gente popular mal humorada, que fica enfurecida quando são adicionados por desconhecidos que não deixam mensagem na sua página de recados. o orkut é terra de gente que não consegue tirar uma foto três por quatro sem aquele retoque mirabolante de algum programa de edição de imagens. de pseudointelectuais que frequentam comunidades de escritores que todo mundo conhece e ninguém leu. de gente gorda que tira foto de perfil escondendo o corpo. e de gente que não tem muita coisa pra dizer e que se limita dizendo que se descrever é para os fracos. o orkut é a plataforma para que as meninas mais ou menos possam fazer pose de modelo. para que quase famosos possam exibir a sua rede social com quatro perfis diferentes, suas centenas de comunidades e suas milhares de fotos. para que pessoas sem muita coisa pra fazer possam enviar as suas mensagens que tomam metade da tela da página de recados, com aquelas imagens cafonas.
o mundo é divido entre as pessoas que tem orkut e as pessoas que não tem orkut. o orkut é uma espécie de identidade virtual. aonde as pessoas se sociabilizam. e trocam experiências. e se comunicam. e compartilham coisas. e então, gente que a gente não vê há um tempão aparece do nada. e músicos independentes conseguem mostrar o seu trabalho. e escritores de gaveta publicam as suas coisas. e a gente descobre um universo de pessoas sozinhas em frente à luz do monitor de seus computadores.
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a globalização e outras coisas criadas pela globo!

| 24 de jun. de 2009
quando eu era pequeno sonhava em poder mudar o mundo. e embora ainda hoje mal consiga controlar o rumo da minha vida e das outras pessoas que estão ao meu redor, o sonho de poder encontrar um lugar mais justo, com homens e mulheres cuspindo felicidade ao abrir a boca, ainda permanece trancafiado dentro de mim.
apesar desse papinho utópico, parte daquele que deveria ser o meu lado ético e politicamente correto, acredita que o mundo seria um saco se não houvesse um pingo de tristeza nas pessoas. o amor, aclamado como o mais nobre dos sentimentos, sem essa felicidade triste ao qual se referia paulo de tarso há tanto tempo atrás, seria vago e sem graça. e por mais estranho que possa parecer, ainda consigo encontrar um sentido caso alguma guerrinha exploda bem longe do meu rabo, se isso for necessário para o desenvolvimento científico, tecnológico, politico e cultural de uma nação.
por essas e outras que nunca fui comunista. acho que ainda estaríamos por aí, desenhando e resmungando dentro de cavernas, se não fosse a velha luta de classes. não estou pintando um quadro com corpos mutilados num front de batalha, mas a competição é um processo natural para ocorrer a evolução humana. enquanto os macacos estavam comendo bananas pelas selvas paleolíticas, os homens estavam fechando o pau atrás de fogo. e foi preciso que esse quebra-quebra atravessasse os séculos para que os nossos ancestrais peludões conseguissem fazer a barba. e muitas cabeças rolaram para que o homem moderno conseguisse fazer coisas simples como andar de avião, acessar um email ou trepar de camisinha. livros. músicas. quadros. filmes. a opressão sempre foi um combustível para a cultura.
ao mesmo tempo, não acredito que os estados unidos da américa tenha se tornado a maior potência mundial simplesmente por seu poder de fogo. o domínio do império americano conquistou o mundo sem invasões bárbaras. ele está presente a cada vez que pingamos um açúcar dietético no nosso cafézinho, e quando escovamos os dentes com colgate. os americanos colorem os tubos de nossos televisores com seus filmes, e seus videoclipes, e suas séries de ficção científica, e nos telejornais em que vimos a presença de um presidente negro conquistar o sorriso de uma criança pobre. a cada vez que nos vestimos com sua moda, e compramos seus best sellers. a cada vez que acessarmos o google ou olharmos para a lua - lá estará fincado, tremulando, uma bandeira dos estados unidos da américa.
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quem não se comunica, se trumbica!

| 23 de jun. de 2009
no tempo em que a caixinha de correio era uma ferramenta importante para a comunicação das pessoas em nosso país, o drummond dizia que "solitário era o homem que nunca havia recebido uma carta". hoje, quando eu abro a caixa de mensagens de meu email, sempre lotada, me bate uma tristeza danada porque só consigo visualizar uma tonelada de propagandas e spams e outras tantas coisas que, definitivamente, não irão alterar o rumo da minha vida. "pare de fumar, fumando", "aumente seu pênis", "ponha silicone e pague em 12x sem juros", além de um milhão de piadas, e mensagens de fé e esperança, e correntes e lendas cibernéticas, e fotos de mulheres peladas, e vírus, e muito lixo. acho, infelizmente, que essa situação aconteça com a grande maioria das pessoas (pelo menos por aquelas que não utilizam uma conta de email pago, com um anti-spam eficiente, como eu). o ser humano, no alto de seu vazio e no cume de sua falta de conteúdo, perdeu as razões de escrever e perguntar e responder e criar situações interpessoais. afinal de contas, é muito mais fácil fazer um protótipo, apertar ctrl c + ctrl v, e sair por aí distribuindo para quem quer que seja. e logo a amazônia se transforma em território da onu, e aparecem as fotos sem photoshop das últimas capas da playboy com milhares de celulite na bunda, e então códigos milagrosos geram milhões em crédito pra celular, e cientistas de uma faculdade norte americana qualquer dizem que ouviram e gravaram os gritos do inferno. pra piorar a situação uma tal de ana me manda em anexo algumas fotos que jura ter tirado comigo em um motel do sergipe no último sábado à noite, e uma certa rafaela me manda um cartão virtual dizendo que está com saudades, embora eu nunca tenha estado no sergipe e não conheça nenhuma rafaela.
nessa última semana o supremo tribunal federal decretou que o diploma de jornalismo não será mais obrigatório para exercer a função. e acho que essa marginalização da verdade e da matéria jornalística, vendida através de sites e blogs e twitters e em comunidades de orkut e facebook, em emails e em tantos outros canais disponíveis na grande rede, são responsáveis pela maior crise na história da comunicação, culminada com essa decisão de nossa justiça. você só precisa digitar uma palavra no google e pronto. um milhão de fontes aparecem. e os grandes portais, movidos com a publicidade de grandes empresas, ocupam as primeiras posições na pesquisa. se clicar em qualquer um deles, eu poderia apostar com você de que provavelmente aquela matéria tenha sido produzida dentro de uma sala bem refrigerada, com informações extraídas através de outros sites, e fotos de agências de notícias e, quem sabe, com entrevistas realizadas por telefone ou email. ainda poderia jurar que o responsável pela matéria, enquanto a publica, acompanha algumas imagens silenciosas da globo news em um televisor ao seu lado e namora com a máquina de café.
vivemos o tempo da trumbica.