uma prece para arturo bandini

| 9 de set. de 2009
pus-me de joelhos, fechei os olhos e tentei pensar em palavras-de-oração. palavras-de-oração eram um tipo diferente de palavra. nunca percebi até aquele momento. então fiquei sabendo da diferença.
mas não havia palavras. eu precisava rezar, dizer algumas coisas; havia uma prece em mim como um ovo. mas não havia palavras.
certamente não aquelas velhas preces!
não o pai-nosso, com o pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome, abençoado seja o vosso reino... eu não acreditava mais naquilo. não havia tal coisa como o céu.
nem o ato de contrição, sobre oh meu deus, estou pesaroso de todo o meu coração por tê-lo ofendido e detesto todos os meus pecados...
havia nietzsche, friedrich nietzsche.
tentei recorrer a ele.
rezei: - oh, caríssimo e adorado friedrich!
nada feito. parecia que eu era um homosseuxal.
tentei de novo.
- oh, caro sr. nietzsche.
pior. porque comecei a pensar nas fotos de nietzsche nos frontispícios de seus livros. elas o faziam parecer um aventureiro da corrida do ouro de 1849, com um bigode desalinhado, e eu detestava os aventureiros de 1849.
além do mais, nietzsche estava morto. estava morto havia muitos anos. era um escritor imortal e suas palavras ardiam através das páginas de seus livros, e fora uma grande influência moderna, mas apesar de tudo aquilo, estava morto e eu sabia disso.
tentei então spengler.
eu disse: - meu querido spengler.
horrível.
eu disse: - olá, como vai, spengler?
horrível.
eu disse: - escuta aqui, spengler!
pior ainda.
eu disse: - bem, oswald, como eu ia dizendo...
brrr. e ainda pior.
depois de ter pensado em tantas pessoas sem nenhum êxito, fiquei cansado de tudo aquilo e ia desistir quando subitamente tive uma boa idéia, e a idéia era que eu não rezasse para deus ou para os outros, mas para mim mesmo.
arturo, meu rapaz. meu querido arturo. parece que você sofre tanto e tão injustamente. mas você é corajoso, arturo. você me lembra de um valoroso guerreiro com as cicatrizes de um milhão de conquistas. que coragem a sua! quanta nobreza! quanta beleza! ah, arturo, como você é realmente bonito! eu o amo tanto, meu arturo, meu grande e poderoso deus. pode chorar agora, arturo. deixe suas lágrimas escorrerem, pois a sua é uma vida de luta, uma batalha amarga até o fim, e ninguém sabe disso a não ser você, ninguém exceto você, um belo guerreiro que combate sozinho, inflexível, um grande herói como o mundo jamais conheceu outro igual.

- o caminho de los angeles, de john fante.

2 comentários:

Letii disse...

pra levantar o astral de qualquer um. ;)

Jaime Guimarães disse...

Salve Arturo Bandini! Ask the Dust!

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