naquele tempo eu tinha dezessete anos. era um rapaz magrelo, cheio de espinhas na cara e alguns fiapos de cabelo nas pernas. ainda não sabia muito bem o que fazer com a vida e acreditava em todas aquelas histórias de amor que os poetas contavam nos livros. eu era um adolescente de classe média baixa que dormia nas aulas de matemática e virava as noites sonhando acordado em ser famoso. passava a maior parte do tempo sozinho e tinha vergonha das meninas.
eu tinha alguns livros espalhados pelo quarto e o meu guarda roupa se resumia a dois pares de calçados, um chinelo, dois casacos, algumas camisas desbotadas, quatro bermudas e uma calça jeans. no final de quase todas as manhãs eu costumava apagar as luzes enquanto ouvia dave matthews num aparelho de som que havia sobrevivido a duas enchentes. a música me levava pra um lugar distante, e embora eu não conseguisse entender muita coisa do que ela queria me dizer, eu tinha certeza que aquele cara estava do meu lado e que ele podia imaginar a porcaria que era ser adolescente num país de merda como o meu. ao meio dia aquele ritual era interrompido por duas batidas na porta do quarto que anunciavam que o almoço estava na mesa. o meu pai costumava fazer o sinal da cruz enquanto prestava atenção no noticiário local que passava na tevê, antes de engolir aquele arroz sem sal preparado pela minha mãe,e morder aquele bife com gosto de borracha.
aqueles dias se resumiam num profundo sentimento de espera. era sempre o tempo que estava a frente de todas as coisas, como se eu vivesse numa eterna introdução. eu queria me mudar de cidade pra ter uma vida independente, e começar a trabalhar pra poder comprar todas aquelas coisas que eu sempre quis ter. eu queria entrar num curso de jornalismo pra poder aprender a escrever tão bem quanto aqueles caras que eram os meus heróis e quem sabe, com sorte, poder publicar o meu primeiro romance ou realizar um sonho qualquer. mas o relógio insistia em me olhar com aquela pose de senhor das coisas e a dizer que eu deveria me adaptar à ordem dele ou estaria à margem da felicidade.
aqueles dias se resumiam num profundo sentimento de espera. era sempre o tempo que estava a frente de todas as coisas, como se eu vivesse numa eterna introdução. eu queria me mudar de cidade pra ter uma vida independente, e começar a trabalhar pra poder comprar todas aquelas coisas que eu sempre quis ter. eu queria entrar num curso de jornalismo pra poder aprender a escrever tão bem quanto aqueles caras que eram os meus heróis e quem sabe, com sorte, poder publicar o meu primeiro romance ou realizar um sonho qualquer. mas o relógio insistia em me olhar com aquela pose de senhor das coisas e a dizer que eu deveria me adaptar à ordem dele ou estaria à margem da felicidade.
3 comentários:
se sua intenção era aprender lidar com as palavras mesmo com curso ou não vc conseguiu e conseguiu mesmo, de maneira rapida tu contou partes de pensamentos que te fizeram um dia, assim como sonhei sonhei mto tbm.
"...num profundo sentimento de espera. era sempre o tempo que estava a frente de todas as coisas, como se eu vivesse numa eterna introdução"
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Eu tenho meu emprego, curso Jornalismo, estou comprando um apartamento, conquistei algumas coisas... mas sempre tenho esse sentimento de estar na "introdução" da minha vida :S
E... infelizmente nem tenho 17 (há dez anos)! :p
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