DEIXE ELA ENTRAR (Låt den Rätte Komma In). 2008. Suécia. Dirigido por Tomas Alfredson. Com Kåre Hedebrant, Lina Leandersson. IMDB - 8.1. Trailer.
quando stephanie meyer lançou crepúsculo há quatro anos atrás, livro que se tornaria fenômeno de vendas entre o público jovem, se aproveitando do espaço deixado com o fim da saga de harry potter, uma onda vampiresca começaria a assombrar o mercado cultural pelos quatro cantos do mundo. os seres mais sombrios e sedutores da mitologia sairiam do ostracismo dos últimos anos para ganhar vida nas prateleiras de livrarias, videolocadoras, nos canais de televisão e em outros veículos de entretenimento. diversos livros sobre o assunto, de autores consagrados, ganhariam uma nova chance editorial; e um novo material vampiresco pode ser construído. no entanto, de tudo o que foi produzido dentro desse universo em particular, nada me surpreendeu e sensibilizou mais do que o filme sueco 'deixe ela entrar' (låt den rätte komma in), do diretor tomas alfredson.
logo de início somos apresentados ao garoto oskar (kåre hedebrant), um menino de doze anos, introspectivo e solitário, que convive com a humilhação e o desgosto de ser saco de pancadas dos outros rapazes de sua idade. oskar parece condenado à solidão até conhecer eli (lina leandersson), sua mais nova vizinha, uma menina de hábitos estranhos que aparenta ter a mesma idade que a dele e os mesmos problemas de sociabilização. o cenário gelado da suécia poderia ser só mais um palco para que duas pessoas sozinhas e carentes se cruzassem, como ocorre pelas esquinas do mundo inteiro, se não fosse pelo fato da menina em questão ser uma vampira.
conforme se torna evidente a solidão que os acompanha e suas proximidades, apesar da diferença de maturidade de alguém que possui doze anos e alguém que possui doze anos há muito tempo, oskar e eli constroem uma relação de uma beleza sentimental sem tamanho, como poucas vezes pude presenciar nas telas de um cinema. a carga histórica e esteriotipada a respeito do universo dos vampiros é respeitada sem exageros fantasiosos. eli permanece trancafiada dentro de seu quarto durante o dia, sem se permitir à exposição do sol, se alimenta exclusivamente de sangue humano e não invade ambientes sem receber a permissão para isso - como se refere o título do filme. mas são as sutilezas dos detalhes que fazem com que 'deixe ela entrar' se transforme numa pequena obra de arte que permanece trancafiada em nossas cabeças por algum tempo depois de sua exibição.
o filme é baseado no livro lançado na suécia há cinco anos atrás (um ano antes do fenômeno comercial norte americano), escrito por john ajvide lindqvist, que também assina o roteiro do longa. exibido pela primeira vez no brasil na última mostra de cinema de são paulo, arrancou quase sessenta prêmios internacionais pelos festivais por onde passou. no circuito brasileiro entrou em cena nesse mês, em algumas sessões em são paulo, curitiba e porto alegre.
'deixe ela entrar' será adaptado para hollywood com a direção de matt reeves (cloverfield), e o remake tem previsão para lançamento para o final de 2010. o cenário gelado da suécia dará lugar ao estado do colorado, nos estados unidos, e será ambientado nos anos oitenta, durante o governo reagan. o que nos mostra que a onda vampiresca que assombra o mundo do entretenimento só não é maior do que a falta de criatividade dos estúdios de hollywood, que destroem, ano após ano, preciosidades do cinema asiático e europeu pouco divulgadas entre o público mainstream, com os seus clichês com cheiro de moeda de caça níquel.