quando você é nocauteado, a sensação não é ruim. na verdade é uma sensação boa. você não sente dor, só uma forte embriaguez. você não vê anjos nem estrelas e se sente numa névoa agradável. depois que Liston me acertou em Nevada, senti, por uns quatro ou cinco segundos, que na verdade todos no estádio estavam junto comigo no ringue, rodeavam-me como uma família. quando você é nocauteado, sente carinho por todos. você se sente amável para com todos. e tem vontade de se levantar e beijar todo mundo - homens e mulheres - e depois da luta com Liston alguém me disse que, do ringue, eu mandei um beijo para a multidão. eu não me lembro disso. mas acho que é verdade porque é assim que a gente se sente durante quatro ou cinco segundos depois de um nocaute.
mas aí esse sentimento agradável acaba. você se dá conta de onde está, do que está fazendo ali e do que acaba de acontecer com você. e o que se segue é uma dor, uma sensação nebulosa - não uma dor física - uma dor combinada com raiva; é uma dor do tipo o-que-é-que-as-pessoas-vão-pensar; uma dor de quem sente vergonha pela própria incompetência... e a única coisa que a gente quer é um alçapão no meio do ringue - um alçapão por onde pudesse cair e ir parar diretamente no vestiário, para não ter de sair do ringue e encarar aquelas pessoas. o pior de perder é ter que sair andando do ringue e encarar aquelas pessoas.
- Floyd Peterson
- Floyd Peterson
2 comentários:
gostei!
encarar os outros é dificílimo.
(e entenda o vocábulo "encarar" no seu sentido mais amplo - cototativo e denotativo)
gosto do jeito que você escreve. queria ter criatividade pra isso, mas não consigo escrever de outro modo que não seja o direto, objetivo, o tapa-na-cara (que não necessariamente leva a nocaute)
Eu tomo uns nocautes. O último que tomei doeu um bocado, mas aprendi como se bate. Como se dá porrada pra valer. E principalmente, como se defende.
Mas no final...o que sobra?
abs
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