quase todos os anos, durante as férias escolares, meu pai levava eu e a mãe pra passar uns dias em tubarão, uma cidadezinha ao sul de santa catarina, aonde ainda mora praticamente toda a família da minha mãe. durante a viagem ele parava num posto de gasolina qualquer e comprava uma coxinha e uma coca cola pra gente, e a viagem parecia não ter a menor graça se aquilo não acontecesse. se eu fechar os olhos ainda consigo me lembrar do gosto daquele frango morto, desfiado, dançando dentro da minha boca, e de como o cheiro da coca cola me deixava enjoado. a gente chegava em tubarão e eu me impressionava com o tamanho do rio que corta a cidade. meu pai sempre contava a história da enchente de setenta e quatro, e de como o rio havia desabrigado mais de noventa por cento da população naquela época. e de como aquilo havia afetado a família da minha mãe.
o meu avô ficava sentado numa cadeira de balanço, esperando a gente na varanda de casa. e quando o nosso carro chegava ele sempre apertava o botãozinho do controle pra abrir o portão eletrônico, e saudava a gente perguntando como havia sido a viagem. o pai sempre dizia que havia sido tranquila, e que tinha pouco movimento na estrada. e então a minha avó aparecia com aquele ar frágil de velha adoecida e cumprimentava a gente com um beijo sereno no rosto.
eu me sentia livre em tubarão. livre porque eu podia pegar a bicicleta da minha prima e correr por toda cidade. eu adorava aquela sensação do vento batendo na cara quando descia a ruazinha da catedral. e eu adorava ainda mais o barro que ficava na sola do pé quando ia jogar bola com o pessoal da redondeza. às vezes a gente reunia os primos no quarto da vó, fechava a porta, desligava as luzes, e brincava de gato mia, que era uma espécie de esconde-esconde no escuro. a gente se divertia à beça naquele tempo!
a cidade continua no seu mesmo lugar. de pé. com as suas ruas pequenas, e os seus carros velhos, e as suas meninas atraentes. pouca coisa mudou desde então. eu ainda me lembro do dia em que fui ao estádio assistir a um jogo de futebol ao lado do meu avô. e de como ele ouvia ao jogo num radinho de pilha, como um daqueles velhos torcedores. eu ainda me lembro de quando uma menina, dessas com seus dez ou onze anos, pediu a minha mão em namoro pra minha mãe, e de como eu fiquei envergonhado naquele dia, porque afinal eu ainda nunca havia beijado ninguém, e porque as mulheres.. bem, você sabe! as mulheres sempre foram o meu ponto fraco. e eu ainda me lembro dos trotes, e das piadas, e dos campeonatos de video game, e das brincadeiras, e dos pés de jabuticaba, e de como era bom estar com aquelas pessoas naquela cidade. tubarão continua intacta na minha memória. pra sempre. como um oasis da minha infância.
5 comentários:
Muito bom!!
Eu já passei por essa cidade! A ponte é super divertida! Mas a memória é bem idealizada, ahh as delícias de uma infância em família!
Acho que conheço essa cidade... rs
idiota esse texto..
muito bom
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